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Mostrando postagens de 2013

Querido diário,

Quando estamos só nós não preciso do fingido. É tanta intimidade, que não preciso te chamar de diário: basta escrever e pronto: tá ali nossa prosa. Entre nós não há frufrus , nem desejo imoral ou condenatórios, eu e você somos totalmente liberais. Quedamos na mesma cadência e dançamos a mesma música: num espetáculo sem espectadores. Viajamos na caravana do delírio e não nos cansamos de seguir musicando o caminho inteiro. O terno novo nos Cae tão bem quanto os velhos baianos:  vestimo-nos um no outro e encaixamo-nos perfeitamente como nariz e dedos, bailando, girando e limpando o salão feito Cinderela... Falando nela, a Cinderela... como tenho trabalhado ultimamente! Mal tive tempo de te escrever. Acho que por isso, hoje, vou fazer uma surpresa pra você: vou te eternizar e vou te mostrar para os gatos pingados que me lêem... Engraçado... eu ia falar mais, mas passou a vontade.

Maquiavélico.

A hipocrisia de transferir os problemas para tudo que é externo, porque pega mal dizer “desculpa, mas o problema sou eu” – tenho que abandonar. O futuro vem do que eu farei hoje – e nós no futuro só apertarão. Não que o abandono seja cruel ou covarde, mas uma superfície áspera é muito mais eficiente do que uma espelhada quando se quer firmeza. Além do mais, não importa o quanto formos contra, sempre haverá algo inalcançável pelo qual lutaremos em favor: seja aquela solidão incurável, seja esta sociofobia intermitente. Resta, entretanto, escutar. Resta, portanto, aprender que nem tudo é ensinar e falar. Ninguém é tão especial assim, nem tão diferente, nem tão igual. Porque ninguém fala por si, nem escuta, nem age. Isto é, ninguém não existe. Todo mundo sabe que ninguém não existe. Aliás, ninguém me disse que todo mundo sabia, não aprendi só. E só sempre seremos, não importa o quanto maquiemos ou maquinemos para o contrário: todo mundo está só, mas ninguém está sozinho. Os que são dif

InfArte

É comum pensar em desistir. Porque tem horas que simplesmente parece que não dá mais. E não vai adiantar conceitos bem estabelecidos, moral intransponível ou razão hermética que vão te fazer manter a máscara de um vencedor. Um dia tudo isso que tu tanto prendes vai sair. Dá pra senti-lo estrangulando tua garganta, fazendo-te engolir o teu desejo de gritar “Basta! Não aguento mais!” . Nada vai manter sempre fixo aquilo que a natureza quer como livre. Uma mentira é uma verdade que quer ser solta. O que move a vontade é o desejo de concretizá-la. Afinal anormal seria o contrário. Somos compostos de partículas. Que apesar de constituírem a unidade matriz de tudo que há, coabitam também com aquilo que não existe – o vazio. Ou seja, aquilo que o átomo ocupa é também ocupado pelo “nada”. E querer que tu sejas uma constante linear, honestamente só vai dificultar tua aceitação como indivíduo que comete erros e acertos, tal qual caminhar com pés no chão e vagar pelo vazio. Mas aí, eis que

O Amor é a Força.

Eu sei que existem pessoas más no mundo. Pessoas que sentem prazer em fazer o mal, seja por um fim sombrio, mesquinho ou gratuitamente cruel. Gente que não mede esforço para ser ruim, para espalhar tristeza, raiva, desgraça e sofreguidão. Gente que faz tudo isso em troca de uma sensação estranha que certamente nem eu nem você nunca vamos experimentar, porque simplesmente eu e você somos melhores que isso. (E eu digo melhor não porque há um ranking com o primeiro, segundo e terceiro colocado e dessa maneira seja preciso mostrar um troféu de campeão em função do rendimento inferior do outro; mas sim, porque sabemos que o amor é o melhor de tudo que já se existiu). Então, por não ousar escrever sobre algo que nunca soube nem nunca me caberá saber, que eu resolvi enaltecer aquilo que conheço bem: aquilo que você tem de melhor. Sendo assim é justamente sobre isso que eu quero falar: as coisas que eu e você sabemos. Quero falar hoje sobre a capacidade de amar. Com este texto eu quero lhe

Entre a sombra e o reflexo.

Tenho a impressão de que todas as coisas que poderiam ser simples e descomplicadas são justamente as mais intrincadas e complexas. E não é que eu me ache a estrela Dalva dos sentimentos adversos, porque sei muito bem que nesse infinito que não ouso explorar devam existir vários outros corpos celestes capazes também de emitir coisa parecida a isso que sinto. O ponto é que, com certeza, “igual” jamais alguém poderá sentir – assim como, obviamente, eu nunca terei sentimento idêntico ao de outrem. Aliás... Aconteceu hoje. Acordei e, como de costume, tratei logo de minha higiene matinal. Fiz xixi, lavei minhas mãos e enquanto escovava os dentes já pensando no banho, notei uma coisa que me apavorou. Ela estava ali, com a boca espumando frente a mim numa janela vítrea que se costuma chamar espelho. Não era seu cabelo riçado ou seu rosto inchado que me causara surpresa. Era o conjunto. Ela me olhava despretensiosa com um olhar pétreo, desfocado, perdido, enquanto eu, pelo outro lado – do vid

Dá um tempo! (Parte 7 – Final)

Parte 6  |  Parte 5 | Parte 4 | Parte 3 | Parte 2 | Parte 1 É comprovado cientificamente que bêbados pobres têm mais sorte que bêbados ricos. Ora, nunca se ouviu falar na face da Terra a história de um pobre bêbado transeunte envolvido em um acidente de trânsito – não pelo fato de eles não dirigirem alcoolizados, mas sim por eles possuírem um sensor mais aguçado que o de tubarões brancos no quesito se esquivar de carros ao atravessar um avenida. Fato é que nossos recém-mega-afortunados embriagados conseguiram por milésimos de segundo chegar a tempo à parada de ônibus para pegar aquele que eles julgavam ser o último transporte público do dia e de suas vidas. "Estudante", dizia a voz feminina gravada quando eles validaram suas passagens na roleta do ônibus. Se fosse realmente coerente com a condição daqueles usuários que de tanto correr transpiravam todo o uísque que beberam, tal voz diria "Estudante só no final do semestre", ou então simplesmente "Vaga

Partida.

No princípio, mesmo antes de tudo tomar corpo, já se dizia que aquilo não iria dar certo, que era impossível, inviável... contudo, como era de se esperar, a obstinação disse que iria fazer mesmo assim e iria provar por a + b que ela estava certa. Os incrédulos por sua vez tiveram de aceitar resignados a tentativa, afinal nada podiam com a sua vontade. E foi assim, enquanto a concordância ainda pensava no que responder, em meio à discordância e obstinação que nasceu o projeto d'A Terra da Concordância. Um projeto ousado que, admitamos, era bonito, tinha bons princípios e tudo mais que era preciso para alcançar o sucesso. Conforme o esperado, tudo começou muito bem. Ao norte já se ouvia o burburinho de que algo novo estava por vir. "Veja! Veja! Eu moro n'A Terra da Concordância! É ótimo morar aqui! Você deveria experimentar também!" Não demorou muito então até que a fumaça das terras boreais tomasse tamanha proporção a ponto de que o sul todo notasse que algo quent

Fotos

Assim que eu cheguei aqui, uma onda terrível de solidão pincelada à sofreguidão se apossou de mim. Eu não tinha na cabeça outra ideia a não ser desistir de tudo que acabava de começar e voltar ao meu amparo, ao meu ninho, à minha terra tão amada e, acima de tudo, àqueles que tanto amo e que tanto me amam. Desde quando pisei nesse solo duro só o que passava pela minha cabeça era uma mistura amarga entre o sentimento de não-pertencimento e o de impotência, tão adstringente, que até hoje essa lembrança do gosto é ainda tão forte, que acho por vezes que ela vive concomitante a isso que chamam de adaptação. Por isso, num instante crítico, pensando em adocicar um pouco as águas desse mar de amarguras, resolvi evocar minhas origens e, para tanto, mandei revelar fotos de meus bens mais preciosos: meus amores. Lembro de cada lágrima escorrida na seleção das fotos, como se escolher as fotos fizesse parte de um ritual de ressuscitação e reviver aquilo, caramba, era o que mais me daria vonta

Acho que eu não sei não.

Não vou mais fumar. É difícil. Não vou mais porque eu quero viver mais. Paro de fumar porque quero ter qualidade de vida, uma vida mais saudável. Uma vida sem preocupações com o futuro. Porque nem tão cedo vou morrer, nem vou sofrer, nem vou me arrepender se eu paro de fumar. Vou parar de fumar porque é o melhor pra mim, vou ser mais feliz. Afinal, eu estou sendo feliz agora, depois que eu parei de fumar. Tenho que parar de fumar, para que eu seja alguém melhor.  Fábio tirou esse pensamento das críticas que ele recebia. Ou foi dele mesmo em suas próprias críticas a si. O fato é que as críticas existiam e elas faziam sentido. Em algum instante Fábio quis então saber o porquê dessa preocupação toda. Ele quis saber qual o motivo das pessoas, inclusive ele mesmo, se unirem numa causa. Fábio queria saber o que une as pessoas. Ele se perguntava se era a necessidade fisiológica ou financeira. Ou se era um desejo ególatra de querer alguém por perto com o descarado pretexto de compartilhar

Como vai?

– Boa tarde. – Boa tarde, como vai, Fábio? – Nem tudo tão bem. – Conte-me dos seus problemas. – Então doutor, estou pensando demais. – Sei... – ... – Acabou? – Sim, acabou. – Ok. Conte-me como são esses pensamentos? Você pensa em quê? No trabalho? Nos estudos? Na família? Nos relacionamentos? Problemas insolúveis? – Em todos acima. E some a isso causas políticas e ideológicas também. – Entendo. E você às vezes sente algum incômodo com isso? – Sim. Durmo muito pouco, me isolo do mundo, me puno por tudo que acontece ao meu redor... – E com que frequência isso acontece? – A todo instante. – Agora mesmo? – Sim. – Você pode descrever? – Ah, doutor! Pensamentos perniciosos. – Pensamentos perniciosos agora? De que tipo? Você sente vontade de matar? De transar? Pode falar, eu preciso saber a natureza desses pensamentos pra que a gente trabalhe junto sobre a

Confundindo as bolas.

— Sabe, Ricardo, estive pensando... está tudo bem em nosso relacionamento?  — Hã! Claro que sim, amor! Hun... Por que a dúvida? — Não sei... Esta madrugada acordei, como de costume, com você falando sozinho enquanto dormia. Você falava umas coisas que gostaria que fossem mais esclarecidas, agora que você está acordado. — Mas, meu bem, você bem sabe que esses meus sonhos não passam de coisas sem sentido, às vezes são coisas que eu vi na rua ou na novela e que simplesmente afloram o meu inconsciente. Nada que esteja sob o meu controle. — É, eu sei... talvez seja uma mensagem do seu inconsciente para mim. Talvez, seja mesmo um sonho bobo sem sentido... Mas... — Mas? — Como era o nome mesmo daquela nova secretária que foi contratada no seu escritório? — Jeane, Jéssica, Jesebel. Algo com jota, por quê? Falei no nome dela durante o sono? — Pois é. No seu sonho ontem você não parou de falar no nome dela. — Ah, amor! Ela foi recém contratada, é um rosto novo que eu tenho