Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2022

Colar de prata

Não é sua palavra que me amarga, é a saliva. Sentida e consentida, travando nossas gargantas. O silêncio já tem novas cores, eu sei. O bote assusta, mas é efêmero. O veneno  é o que machuca e permanece. Não é o olhar que me afugenta, é o medo de ficar cego. Tateio minhas lembranças com a carne. Pelos, lábios, encontro, minha – nossa! – tara. Há um mistério que eu vou descobrir, é iminente. Eu não estou preparado para ele, posso sentir. Mas nada está preparado para coisa alguma! Não dá nem pra parar, avalie pré-parar ! O balanço final nunca é final, afinal. Mudei-me de mim mais uma vez. Desmontei tudo e empacotei em baús. Na mudança, acabei encontrando aquele colar de prata que você me deu. Ele se oxidou. Mas não desisti dele. Pela polidez, descartei o sujo e remocei o brilho. Hoje reflito na prata: minha paz é ouro.

Tempo de Pipa

Ela permanecia ali em seu galho só observando aquela comédia. De todas as suas crias, ela sabia que aquela era de longe a mais risível. "Ora, 40 mil anos e continua se achando o ápice de tudo que vive! Como é engraçada essa criatura!" soluçava de tanto rir, aquele ser de idade incerta. "Eu lhes coloquei 7 buracos na cabeça para absorver tudo ao redor, mas não adiantou. Veja, por exemplo, eu lhes dei a praia de Pipa belíssima para ser apreciada. Águas mornas e paisagens inebriantes. Mas eis que, quando estão lá, eles só apreciam a si mesmos. Nas fotos, por exemplo, desfocam o presente que lhes dei, deixando-o meramente como plano de fundo borrado numa foto igual a tantas e tantas outras..." e refletiu um pouco "basta um zap meu para o Sol e tudo que é celular acaba..." E continuou "Eu vou passar cerol na mão. Vou sim!" E voltou a gargalhar.