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Mostrando postagens de 2012

Sentença final.

Não dá pra ser todo dia aquilo que você sempre foi. Simplesmente não dá. Porque simplesmente há dias de mudança. Se analisássemos por uma ótica macro, constataríamos que o nosso planeta (sistema solar, universo etc) está sofrendo mudanças o tempo inteiro. As estações mudam e ainda não conseguimos manipular o tempo para que elas se eternizassem - ou nunca viessem. Ou nos adaptamos, ou deixemos pra lá e morremos congelados no inverno  - ou desidratados no verão. Acho que com a cabeça, assim como o andar de contração e expansão do universo, não podia ser diferente. E, já que fazemos parte da mesma matéria, átomos, por que então, devamos ir de encontro a isso? Não acho que tem como jogar contra a fluxo de nascer e morrer, de crescer e diminuir, de pressionar e relaxar. Toda energia, toda a matéria que circula no seu sangue e ao seu redor é constituída por isso: por entidades que vibram e que fazem movimentos tão loucos e tão rápidos que é impossível vê-los, apenas prevê-los. Tornando-se

Bússula.

Meu amor, sempre me culpei porque nunca escrevi nada especificamente para você. Nunca lhe dediquei um texto ou uma crônica. Nem sequer um versinho! Passei esta madrugada pensando o porquê disso. Por que eu nunca expressei este meu imenso amor por você em palavras? Por que nunca descrevi o quanto você me é cabível, compatível, imprescindível, imbatível!? Por que eu nunca falei que quando eu penso em você, me encho de paz, de bons sentimentos, de boas histórias que vieram e virão? Por que eu jamais me dispus a eternizar em letras que você é o elixir da minha vida, que você me faz uma pessoa mais feliz dia após dia? Pensando sobre isso me deparo logo com uma longa viagem filosófica que me é tão habitual. Eis o itinerário: A primeira parada é uma constatação que eu já tinha desde muito tempo: a escrita é uma arte triste. Ele, o ato de escrever (portanto, o de ler também), se atém à tristeza assim como uma lágrima se atém à gravidade. Lógico que há outros caminhos: ora, existe a gr

A adoção.

– Mãe, pode dizer, já estou preparada. Eu sou adotada, não é? – Hã? – ... – Que idéia! – ... – Você está mesmo perguntando isso? – Claro que sim. – Mas, por quê!? Da onde você tirou isso? – Ora, mamãe! Faça-me o favor! Tá na cara que não sou sua filha! – Como assim, filha!? Assim você me ofende. – Desculpe, mamãe. Não é minha intenção lhe magoar, mas é que somos tão diferentes uma da outra... – Acho que você está se precipitando, minha filha. O que te levou a pensar assim? – Não sei... Acho que foi o espelho. – O espelho? – Sim. No espelho eu pude ver o quanto somos diferentes. Não puxei nada à senhora! Veja. Meus olhos são tão diferentes dos seus! – Agradeça a Deus por isso! Você não sabe como é incômodo usar estes pesados óculos! – Mas eles continuam diferentes... – Deixe-me tirar isso. E agora? Não se parecem mais? – Não, mamãe. Seus olhos são pretos, discretos, incisivos. Os meus são azuis, reluzentes, de brilho perdulário! – Você puxou a cor d

A caminho.

A onda tornava a limpar seus pés cheios de areia da praia: a onda batia e toda aquela agonia do tato enlameado se dissolvia. Agora, a onda voltava e os pés já lavados, sufocados suspiravam por mais areia. E assim, o percurso continuava com pegadas recentes bem vívidas e pegadas longínquas meio apagadas entre o meio e o fim... Talvez ele começasse a entender que o mister da caminhada não seja caminhar e sim, chegar. Ou talvez ele enfim descobrisse que na linha de chegada fosse tudo do mesmo jeito como na linha de partida e o importante, então, fosse o percurso percorrido: “os mais velhos dizem que de nada adiantam consequências sem causas, enquanto os mais novos bradam que de nada adiantam causas sem consequências”, pensava enquanto andava. A cada nova baía, uma nova paisagem era descoberta, enquanto o mar continuava sempre lá, secando e molhando, soltando e puxando, descendo e enchendo, fazendo seu papel ora cruel, ora benévolo de consciência viva. Enquanto andava, o anda

Eu, hein!?

Dia desses travei uma luta feroz com uma amiga de longa data, a senhorita Consciência. Como em toda boa briga, não só apanhei, é claro. Bati muito também! Soquei-lhe nas suas maiores controvérsias, chutei-lhe bem em cima de suas falhas, acertei-lhe em cheio os seus arredios desacertos! Contudo, como bem já adiantei, perdi. Ora! Ela é uma monstra! E dos piores tipos! Que lhe esmaga a cada investida bem-sucedida. Sei que saí dorido, arrasado, cadente, porém, tenho certeza que ela também. Nas palavras que se seguem tentei transcrever minha cansativa desventura. E ela começava com um questionamento absorto vindo de não sei de onde, não sei que horas que dizia... – Você já se perguntou do porquê de quando você é mais novo, facilmente fala ‘eu te amo’ e agora, enquanto ‘adulto’ dificilmente o diz? Pensando sobre isso, foi que atinei sobre essa autoanálise tantas vezes negligenciada por você. Pausa: o leitor pode até achar disso tudo um esboço bobo (para não chamar ingênuo) de quere

Ao mar.

Para uma amiga, num dia de reflexão confessei o quanto eu amava o mar. Relatei-lhe como ele, o mar, era significativo para mim. Cada átomo, cada molécula, cada proteína, cada sal, cada pedra, cada animal, cada sincronia, cada sinal, cada movimento que o constitui, tudo em sua imensurável grandeza era amado por mim! “Como eu amo o mar!” Perguntado por que, respondi que ele me envolvia, ele me refletia em dias de muita nuvem, que ele me acalmava em marés baixas, que ele me alegrava em dias de sol, que ele me apaixonava em noites de luar, que ele me limpava em suas ressacas, que ele me elevava em suas cristas, que ele me rebaixava em suas depressões, que ele me engolia em suas ondas impiedosas, que ele me movia noutras enérgicas, que ele me machucava em suas pedras sorrateiras, que ele me curava em suas águas medicinais, que ele me saciava e, acima de tudo, que ele me entendia. “Ah... mar!” Há tanto o que falar. Desse hiato cheio de coisas, só posso dizer que vou subindo e descend

Caminhos tortos.

Venho aqui, leitor, para narrar um acontecimento estranho que me sucedeu. Fato esse que me patrocina as mais diversas tristezas e obsessões. Não quero, entretanto, com isso lhe causar similar efeito que em mim se alastra, mas é que soube por um terceiro que o dilema do outro é sempre inócuo, fácil de lidar – e por que não – de resolver. Além do mais, como escrever é sempre uma saída, me arrisco à pena. Aconteceu há um mês ou mais, contudo a repetência lancinante na minha mente dá ares de tanto frescor, que com pouco esforço até os maus odores se volatilizam por este vão escuro em que traço esse registro. Eu caminhava com a pressa dos descompensados que fogem do ócio, aquela pressa motivadora que bem o leitor conhece. Estava eu tão compenetrado em meus passos largamente vazios, que não dei conta do caminho e terminei por esbarrar em alguém. E tão automáticas quanto as minhas passadas, foram as desculpas que lhe proferi. Até aí, normal, todavia eis que aquele alguém se tornou um ma