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Mostrando postagens de março, 2014

Meretíssima,

Vim hoje aqui tentar interceder pelo meu cliente em prova de sua inocência. Eu sei que este já é o último apelo que eu posso fazer e quase tudo alega para que meu cliente seja realmente condenado. Sei que todas as evidências apontam para a sua culpabilidade. Sei que ele cometeu o delito e que provavelmente, ele poderá apodrecer na cadeia. Eu vim de casa determinado a desistir de tudo – de repetir o discurso de ontem, com outras palavras só para passar o tempo da defesa. Contudo, nesses últimos instantes, um argumento desesperado, mas nem por isso insignificante me veio à mente. E ele se refere à muito distante, porém concreta, relação que a Senhora tem com meu cliente e comigo. Peço, de antemão, que escute a toda a minha sequência de pensamentos sem interrupções, para que então depois eu possa responder a quaisquer eventuais questionamentos da acusação. Ei-la: Conforme foi provado, pela gravação, meu cliente cometeu sim esse crime: está tudo lá. Entretanto, dentre todas as pro

Ingrato.

Não importa o que houver, estarei sempre errado. Se eu sinto, estou errado. Se abafo o sentimento, também estou. Se me calo, errado. Se falo, erro novamente. Como pode alguém sentir, implodir, falar ou calar um absurdo desses? Entendo que todos erram, mas não é o caso: eu sou COMPOSTO de absurdos – diferente dos outros que no máximo, depois do que Fernando Pessoa disse em seu poema em linha reta, escorregam quando o maldito piso está molhado com a maldita água. Mas... não importa! Tudo está resolvido: o que acontecer é culpa só minha e de mais ninguém! Um avião que caiu, a culpa é minha! Ora! Quem mais, além de mim, pode adivinhar que aquele voo iria cair? Quem mais, além de mim, poderia prever que aquela viagem não fosse finalizada? É óbvio, é evidente que é tudo culpa minha! Quem dentre esses que me leem de tamanha coerência poderia ser culpado por se bancar de culpado? Nenhum, claro. Somente eu posso ser culpado por ser culpado. Eu! Quem é que não deve ser achincalhado, aped