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Mostrando postagens de 2011

É tudo e nada.

Ser radical? Será que isso é tudo (ou nada)? Ou o que voga é o meio-termo de uma vida mais ou menos? O que importa é viver ou ser vívido? Aliás, devemos viver pela razão ou ser fruto da emoção? Quer dizer, devemos? Devemos nos preocupar com a fronteira entre o pensar e o sentir? Eis o embate entre emoção e razão de que sempre me esquivo. Não quero me fechar, me enclausurar num comedimento traumático, nem me entrevar em cima de uma cadeira de mágoas. Afinal, não é porque vejo uma história se repetindo que ela vá ter o mesmo desfecho. Contudo, o problema é que ela se repete. Mal cogitamos um novo final e o previsível já está lá, prostrado, como um banquete sensacional, ao qual nossa dor da fome não pode recusar. É, leitor. É fácil falar. Assim como também é fácil ler, estudar, trabalhar... O difícil mesmo é sentir. E, sobretudo, esquecer de sentir. O sentimento independe da sabedoria. É como domesticar um ser selvagem. Onde já se viu: urbanizar o gato-do-mato!? O gato-do-mato

Prazeres e Dolores.

Acho que escritor deve ser a profissão mais difícil de que tenho conhecimento. E não me venham dizer que almejo com isso, olhos de piedade, afinal, não tenho anseio de ser dessa raça. Além do mais, há o fato de que o escritor tem que escrever e tudo o que mais procuro é justamente a leveza do não ter que , a liberdade. Quer coisa pior do que escrever sob pressão? Pois. E o escritor o faz! Alguns até, vertiginosamente. Vale frisar, entretanto, que escritores não seguem cartilhas. Não conheço manuais de "como escrever um livro" ou "como ser escritor". Tadinhos! Escrever, sob suas próprias leis, mandamentos expelidos de uma estética letrada, de uma coerência lógica ou, o pior de todos, de seu próprio inconsciente nebuloso deve ser massacrante. É como pescar o inédito do passado: incoerente, inútil, mas possível. Escritores: flagelos de si mesmos. Por falar em flagelo, me passa pela cabeça agora a imagem de uns asiáticos fanáticos que se automutilam em devoção a se

O impasse.

Se Deus existisse, Se o amor matasse, Se a flor não murchasse, Não haveria sequer Motivo de impasse. Se o caminho se esguia, Se a vida excrucia, Se fosse outro dia, Não saberia dizer O que é alegria. Porque infelizmente é dor O avesso do riso, E a estrada do horror É a que leva ao paraíso.

Entre o erro e o certo.

— A questão é que chega uma hora que você tem de optar entre o fácil e o certo. — Calma lá! Então, segundo o que você está me dizendo, o certo é o difícil? — Não necessariamente. — Explique-se. — Geralmente o que é mais difícil é também mais recompensador, portanto é o certo a fazer. — Ora! Você acha certo darmos uma volta ao mundo para chegar ao seu vizinho, por saber simplesmente que retroceder uns passos é o mais fácil a se fazer? — Não, mas pensando bem, é recompensador: eu conheceria o mundo! — E se houvesse urgência? Se fosse necessária sua presença imediata no seu vizinho? — Eu correria pela via mais curta. — Ou seja, a via mais fácil... — É... — Pois é... — ... — ... — Desculpa. — O perdão é a maneira certa, pois não é fácil. — Sinto muito, mas não posso compactuar com isso. Sendo assim, fumar é o certo para a vida? — Parar de fumar é o certo para o fumante. — Um mau professor é o certo para ensinar?

Umas meias verdades.

Sinto informar, porém é verdade: no final o que você menos queria transparecer, se apresenta como uma lei que lhe obriga a ser quem você mais odeia, o outro. Pior! Se você parar pra pensar, percebe que isso tudo é estratégia do seu próprio ego. A egolatria é tão intrínseca a você que ela sabe que é melhor ser vista como má e inaceitável. Ora, egos não querem concorrentes! Contudo, não esqueça: o ego se esquiva! Ele se aproveita da confusão que o melindre causa com aquela cara antagônica do ‘não fui eu’. E é aí que ele peca. Não pela contradição de agir de uma forma e ser de outra, mas porque o ego não agüenta tanto culto a si. O ego tem essa mania feia de ser complementado! Digo, visto que chega uma hora que você percebe que cansa ser só. É inevitável. O ego não se contenta com o flagelo a si e se alimenta da submissão do próximo, parasitando no ser-ou-não-ser, no estar-ou-não-estar. Por isso, cogito, agora, retirá-lo de mim. Dar adeus aos caprichos e opróbrios da alma! Adeus, co

E a dor.

E a dor passa passa, passa, passa, dor, passa passa dor, passa! por favor é a dor passa... passa... passa, dor, passa! passa dor. passado.

A carta contida.

A gente se daria bem melhor agora. Agora que sei dos seus erros, das minhas perguntas nas suas respostas vagas e dos nossos acertos. Agora que você também sabe o mesmo de mim. Naturalmente a gente se daria bem agora. Acho que seguimos linhas de pensamentos paralelas, que só se cruzam no infinito. E só hoje percebi que não dá para chegar lá, no infinito, antes ou depois. E que só hoje você também percebeu que não dá para controlar o destino. Não dá para viver sem emocionar(-se). A sabedoria não esculpe um rompante. Pensando bem, a gente se daria mais agora. Porque, no fundo, a história de hoje vai muito além do que a lógica de ontem foi capaz de prever. Portanto, não sei se foi bom pra nós, mas que nos foi útil, tenho certeza. Gosto muito de você. Muito mesmo! Com impulso, Sua amiga Lógica.

Imagine a pergunta.

− Não. Não sei como lhe explicar isso. É como se eu entrasse em colapso com um simples fato de um cisco ter caído no seu olho e, outrora, ignorasse a bomba nuclear que estoura a dois quarteirões. É como se você fosse a lógica disso tudo, que foge, se esguia como serpente em solo pantanoso e nunca dá as caras; só envenena. É como essa perda de razão, de coerência, de sentido, entende? Lógico que não. Nem eu entendo! Mas nem por isso pense que lhe redimo a culpa! Falo da culpa que sinto, da culpa de que sempre fui assim, não mudei, não virei a página. E a mais pungente de todas elas: a culpa de lhe culpar pelo que sou. Eu não sei mais se é tão legal assim não ser normal. Eu queria poder ser normal, iguais a esses que me lêem agora, que sempre pensam. (lembre-se: sempre pensam é sinônimo de nunca param de pensar!) Eles, os normais, conseguem agir, dominar a situação na cuca, rebater, defender, redargüir... enquanto nós, os leitores do lado de cá, só existíssemos para sentir. É como se a

Saudosismo

Não acho necessário incutir você do mesmo pensamento que eu. Ora, discordar de você a mim não causa enjeitamento; aliás, o contrário, até agradeço por você ser diferente de mim. Dois eus seriam catastróficos! Entretanto, vejo tanta gente impondo suas irrepreensíveis usuras que o caso agora começa a me dar veios à apoplexia. Eu estou errado ou será mesmo que é pedir demais para respeitar a opinião alheia? Ora, por que se incomodar com o que fulano está escutando? Qual a agonia que há em beltrano ser promíscuo? Quem disse que existe verdade absoluta e que essa é a proferida pela sua voz inquisidora? Em que lhe incomoda o fato de eu pôr ou não uma foto no meu perfil ou citar uma frase de alguém? Tem um código de conduta obrigatório a se seguir e ele é ditado por você? Faça-me o favor! Como diria o poeta, Russo: "não sou mais tão criança a ponto de saber tudo." Então, creio que me aposentei. Cansei de gente de conceitos incontestáveis e de egos flutuantes, porém, acima de

Broto.

Eis que da terra molhada a semente que há semanas germinava, finalmente brotara. Com todo esmero e ímpeto, ela se rachava e expunha ao céu aberto sua primeira folha. A primeira de muitas. A sede de viver a fez romper seu confortável casulo e dar as caras ao mundo das intempéries.  Não havia outra saída e ela foi começar a  vida, nem cedo, nem tarde. A semente, portanto, virou broto e esse agora olhava ao seu redor e via com esplendor o mundo novo que o escolheu: era tudo claro, diferente, bom. Pássaros, insetos, cheiros, vento, cores, luzes. Deslumbrante, deslumbrante! Entretanto, não havia coisa pela qual seus olhos mais eram fisgados do que suas frondosas vizinhas. Todas enormes, de troncos maciços, sombras vultosas, folhas a perder de vista... Logo, vendo aquele espetáculo ao seu redor, o broto, após o nascimento de sua terceira folha, resolveu perguntar a uma de suas vizinhas sobre como ele chegaria a tal patamar. Contudo, sua eufórica indagação fora frustrada, porque nã

Miau?

Você é o nome do gato do vizinho. E desse condomínio, o único gato é ele. Talvez no quarteirão, talvez no bairro existam outros, mas só Você mia na minha varanda, logo só há Você. Você nunca me incomodou. Ele é, apesar de só ouvi-lo, de poucos miados. Conhecedor ou não, Você me dá certa confiança a qual nenhum outro gato me dera. Sabe um fungo que nasce do nada? São assim meus sentimentos por Você — tal como ele apareceu: instantâneo, dengoso, derradeiro. Minha alergia aos seus muitos pêlos foi contornada pelo seu ronrom suave — não me pergunte como. Dono de vários lares, Você era nômade corporal, mas um exímio sedentário cardíaco. Você tinha tudo para ser apenas mais um gato, entretanto, com Você era tudo incrivelmente diferente. Era... Pobre Você! Caiu do sétimo andar. Pensei que ele também soubesse voar. Você não teve culpa, muito menos eu! A culpa é dos engenheiros, dos pais de Você, do vizinho ou de todos. O que Você diria? Acho que ele sabia o que fazia... Balela! Mania fei

Silencia-dor.

Quanto mais o relógio tiquetaqueava, mais a anestésica ideia de tempo perdido o consumia. Era como se uma âncora, chamada passado, desconstruísse e afundasse aquele que outrora desbravava a nado os sete mares dos pecados. Mas, apesar disso, seus pulmões, desumanamente resistentes, de nada se queixavam, visto que a apneia o aproximava da paz suprema que a morte trazia: o silêncio. O silêncio é o som universal dos humanos. Apesar de muitos falarem, apenas a mudez é unânime. Porque gostamos do meio-termo, da sua dúvida, da nossa imaginação. No íntimo, estamos sós, calados com nós mesmos, resignados ao estrondoso eco da alma. Pois as perguntas imperecíveis, as verdades dubitáveis, a concreta e insuportável peremptoriedade das opiniões flácidas: tudo converge às indigestas palavras. A escrita é a arte triste. Há milhares de anos o homem tenta transcorrer pelo papel sua humanidade, contudo se choca graças, justamente, a sua defectiva e incompreensiva humanidade. Daí a amargura dos romancis

Não leve a mal.

Eu tenho que evoluir? Quem disse que eu tenho? Quem disse que eu quero? Por que devo ir em busca desse disfarce tolo do superei — ou como os mais hipócritas gostam de dizer —, do te arquivei num lugar bom? Não! Eu não quero. Simplesmente me recuso a esse recalque travestido, fingido, forçado, social. Prefiro o meu velho, bom e francês recalque. Aqueles das dores infinitas, dos pra-sempres revividos, do diariamente triste. É certo que minha vida é curta demais para ter só tristeza, mas também é efêmera para essas alegrias demagógicas. Deixe-me assim, com meu desamor sincero. Já sei do que vou me lembrar no futuro e agradeço sua boa intenção.

Sobre sentir.

Dizem que a dor da saudade são mimos do ego: queremos sentir novamente aqueles holofotes de pensamentos do outro esquentando nossas peles. Dizem que no fundo só estamos reavivando o que jaz morto e essa ressurreição tem o único propósito de nos massagear o coração... e apunhalá-lo dois segundos depois num ciclo sadomasoquista. Eu não discordo deles, afinal não tenho espaço para mais embates inúteis. Nessa matéria sou realmente um desistente. O que é de se levantar, contudo, é a serventia dessas pessoas que não amam, mas querem ditar o amor. Aquilo que eles falam é hipotético, falso, desonesto e, muitas vezes, nos é impelido goela abaixo. Como por exemplo, algum filósofo russo poliglota que balbucia num português intrincadíssimo e, ao termos entendido alguma mísera lógica, nos rejubilamos e creditamos toda confiança a uma frase certamente banal: “o amor é importante”. Oh, você conhece Cocorotovski! É como se sentir fosse uma porta para o sucateamento do sentimento. 'Que a partir de

Vai chover?

— O mal da humanidade está em criar expectativas. — Que mesquinho pensar assim! Há tanta coisa pior do que as expectativas! Veja uma guerra, um tsunami, uma bolsa roubada, uma chacina... — Se não tivéssemos esperanças de que tudo perdurasse, não sofreríamos tanto. É como um bônus aos descontentamentos: veio a guerra e estraçalhou sua sensação de paz eterna ou, não veio a guerra e arruinou suas hipóteses de como tudo iria terminar. — Sinto muito, mas não vejo coerência no que você fala: eu nunca iria querer uma guerra! — Isso é o que você me diz e o que me faz acreditar que você pensa assim. Logo, querer que eu confie no que me diz é ter expectativas sobre o meu reflexo diante do que me lança. — Ainda não compreendo o ponto. — É normal. A expectativa é a coisa mais incoerente do mundo. Ela nunca está no centro, sempre nas laterais, isto é, ou você quebra ou você frustra suas expectativas. — E quem atinge suas expectativas? — É como quem alcançou a utopia. É o que me foi

Confusa.

Pensei em escrever algo enquanto minha amiga não chegava à minha casa. Eu a chamei porque me sinto fraca. Estranha, na verdade. Nunca senti isso antes: uma sensação tão confusa que não consigo chorar ou rir, sentir fome ou vomitar. Odeio esses dias. E eles estão ficando recorrentes. Me sinto uma estranha dentro de mim. Mas até que dizer essas palavras ajudam. Desculpe a desconexão desse texto, só sei pensar assim. Agora crio uma gata. Ainda não sei o nome que vou dar. Ela é linda! Tá brincando nesse momento com um pano de chão. Ela tem me feito bem, apesar das fezes podres. Eu durmo com ela na cama mesmo. Ela é carinhosa e se não for, vou fazê-la ser. Odeio isso em mim: forçar os outros. Por um instante vejo-me como um alguém que conheço: minha gata. O gato ronrona no seu pé pra pedir. E ele enjoa. Gosto dela. Ela se parece comigo. Eu sou tão complicada, né? Tão egoísta. Ajo sem pensar nos outros. Mas é que se eu pensar nos outros antes de agir, não me sinto honesta nem com os outros –

A caixa da sabedoria.

Era uma vez numa ilha deserta, um náufrago. Fazia tanto tempo que morava ali sozinho que ele já não sabia de sua origem ou o que havia além das imensidões azuis. A adaptação, por assim ser, sitiou seus pensamentos. Ou, em outras palavras, a acomodação exilou o que era desnecessário. As únicas coisas que ele sabia por ali era o que lhe podiam ensinar. E, tendo o sol como guia, aprendeu a ter disciplina, foco e determinação; tendo a lua como conselheira, passou a compreender suas fases e o que elas significavam; tendo as plantas como exemplo, descobriu que boas safras levam muito tempo para acontecer. Tudo cíclico, natural e desumano. Por ser rei de um reino inóspito, o náufrago encheu-se de si para tornar-se Deus. O Homem é o deus do Homem. O Homem é o deus do deus. Suas crenças tornaram-se reais; suas idéias, leis; e seus desejos, o bem geral da nação. Muitos anos se passaram e seu conforto só ia aumentando, até que ele havia se conformado supremo: a chuva caía assim, o gramado cre

Marte.

— É do ser humano ter dúvidas? — Será? — Acho que sim. — É do ser humano supor? — Acho que sim. — O que não é do ser humano? — Marte! — Será? — Acho que sim.

Fale direito!

Não venho aqui pedir que você ame Machado de Assis. Também pouco me interessa lhe dar uma lição sobre literatura, afinal, não tenho gabarito para falar acerca disso. O que quero lhe dizer é que sim, as línguas vivas estão em constante mutação. Entretanto, quando olho ao redor, vejo uma sociedade sendo formada e, o horror!, propagada por erros costumeiros e de fácil resolução. Coisas como vírgulas, pontos, acentos etc. Eu não quero bancar o certinho, ou me autopromover um bom escrevente, contudo é necessário que haja uma comunicação efetiva! E , por que não, bonita! Português não é só uma matéria da escola ou uma alternativa numa prova de múltipla escolha; Português é uma herança linda ainda, é uma lógica, é uma malemolência, é a poesia da sua própria descrição. E muitos de vocês aí deturpando, tendo descaso, estuprando nossa tão bela forma de se transmitir. Outro ponto que gostaria de citar é que, como disse anteriormente, o Português está em constante mudança. Ou seja, não quero pre

Recriativo.

Hoje eu acordei. Não que eu estivesse em coma e acordar fosse um evento extraordinário. Hoje eu apenas acordei. Simples assim. Em outras palavras, eu deixei de dormir. E não me venham adivinhar um significado simbólico — ou profundo, ou subjetivo, ou o que queira — para três palavras tão corriqueiras: hoje eu acordei; como ontem e provavelmente como amanhã acordarei. Abri os olhos, saí do sonho, tirei a remela, me espreguicei e praguejei o motivo que me despertara. Escovei os dentes e me banhei depois de tomar café. Minha empregada sempre me repreende por logo após o café eu ir à ducha. “ Vai tomar banho depois desse café quente!? ” me fala com toda aquela convicção de que depois do terceiro cantar do galo, toda careta torna-se permanente. Após ter morrido e ressuscitado naquele banheiro, relatei-lhe o ocorrido e, milagrosamente, ela não acreditou. Sou contra a máxima que tanto se apregoa do só acredito vendo. Porque até vendo, se quiser, não dou fé. Crer é questão de opinião e a

Entre nós.

— Amorzinho, minha paixão! — Oi, minha serotonina. — Toda vez que te sinto, nuvem glacê de morango, parece que o seu quero-quero balbucia prosopopeias sabor chocolate... — Onomatopeias, brilhante escarlate, Onomatopeias... — Centopeias não me varam melhor, andarilho do meu espectro cardíaco. — Meu linfócito TCD4, meu chá de sete ervas às 17h! — Te amo. — Preciso de ti. — Te quero cabalisticamente, meu faraó! — Eu sei, minha força galáctica, fabulosa nebulosa! — Vem cá, meu leite de coco atapiocado. — Jujuba de doce de leite! — Minha resma de notas infindas, meu corolário! — Meu apócrifo! — Eu amo... — Nós amamos... — A nós? — A nós.

Ondas, Cores e notas.

Gotas em pó, notas sem dó. Cores, suas, todas e só. Aves não voam em marcha ré. Um rio não é igarapé. Un amor solo a mi. Mon amour, mon ami. Quando o mar se põe a arfar não implica que vai secar. Água, cor e sol É pênalti e gol! Mas sem tu lá, Só luz, gota e ar, É como estar em si O vazio do não existir. Se em ti há menos sentimentos, sei que é mentira. O fulgor aqui é só o aumento da vista que te inspira. Numa incessante confusão do não amar amando. Porque o real é ilusão, só não se sabe quando. Sou sua lavoura, lá fora, a massa física da hora. Também sou filho de Deus, mas acredito em ateus. Comer sem ver, Beber sem saber, Respirar sem viver. Nada é tão fácil e nem tudo é difícil. Amar não é nenhum sacrifício. É saltar do precipício, esperando um bom auspício! Não pensando em desperdício. Você já é o meu vício. Vem pra cá e deixa disso. Vem me ver nesse comício, Vem calar este suplício, Ou me votar pra seu patrício. Não consegue ver? Um arco-íris cintila ou reflete? Seus

Boa viagem!

E lá se iam todos novamente de volta à habitual hostilidade. Esperando ansiosamente o momento emblemático em que aquela peculiar corrida se iniciaria. O tiro de partida, assim como o trajeto da competição só eram decididos no último segundo. Era dada a largada da corrida ao ônibus. É estranho pensar por que se corria tão selvagem e desesperadamente de encontro àquela porta pela qual todos haveriam de transpassar: do primeiro ao último da fila. Coletivamente tinham que esperar uns aos outros. Mas corriam, ou melhor, atropelavam-se com o único e vanglorioso intuito de estar na frente e mostrar o traseiro para o passageiro que viria logo em seguida. Tais usuários, entretanto, numa ação uniam-se. Era o coro quase uníssono da profusão de com licenças deturpados de razão (ora, para que tanta gentileza?). Talvez eles não soubessem o que os apressavam tanto para se espremerem mutualmente. Quem sabe até esse seja mais um dos mistérios de Fátima. O curioso nesta estória foi o fato de todo

Aos trinta.

Dizem que a mulher aos trinta começa a cair. Em todos os sentidos: cair no esquecimento, na desmotivação, no lugar-comum. Apesar do que falam, sinto que estou cada vez mais poderosa, embora, às vezes me veja atraída também pela gravidade: peitos caindo, carnes amolecendo, rugas cosendo... Contudo, sinto-me mais viva, cheia de ânimo para carregar o fardo de outras três décadas. Tenho um bom emprego e uma ótima casa. Comprei meu próprio carro e ganhei da minha mãe um lindo chiwawa cujo nome é Charles. Pus essa alcunha por conta do príncipe mesmo. Já que príncipes encantados não existem, fabriquei o meu próprio. Antes que pensem que estou desesperada, uma ressalva: minha vida sentimental está agitadíssima e, para falar a verdade, adoraria que nessa nova fase viessem tempos mais amenos. Há meses que vários homens me têm aparecido, porém, os céus não têm colaborado para minha amancebação. É certo que uns deles não são meus sonhos de consumo, afinal, três cancerianos matam qualquer virgi

Firework.

— Oh, Senhor, por que queres que eu faça isso? — Não adianta me questionar. Dos meus desígnios sei eu! — Matar o próprio filho? Por que não mata O Senhor, já que faz parte dos seus desígnios!? — Eu não posso. E é aí que você entra. — Não te compreendo. Tu, Senhor, és onipotente. Por que não matas O Senhor mesmo teu filho, meu irmão? — Há coisas, meu filho, que não é próprio a tua natureza entender. Portanto, quero te propor um trato. Quero que te juntes a mim para abrirmos outro compartimento no inferno. Trata-se de um pedaço que alugo a Lúcifer. Como não há nada além da minha propriedade, ele tem uma dívida eterna comigo. E é isso que quero te propor se me ajudares no meu propósito. — Que é matar teu próprio filho, meu irmão! — Ninguém jamais saberá que és irmão dEle, eu não permitirei. — ... — E então o que me dizes? Estou sendo camarada contigo: dando-te a chance de também ser conhecido, lembrado, enfim. — Não vejo bem assim, Senhor! Na verdade me sinto injustiçado: