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Mostrando postagens de agosto, 2011

Miau?

Você é o nome do gato do vizinho. E desse condomínio, o único gato é ele. Talvez no quarteirão, talvez no bairro existam outros, mas só Você mia na minha varanda, logo só há Você. Você nunca me incomodou. Ele é, apesar de só ouvi-lo, de poucos miados. Conhecedor ou não, Você me dá certa confiança a qual nenhum outro gato me dera. Sabe um fungo que nasce do nada? São assim meus sentimentos por Você — tal como ele apareceu: instantâneo, dengoso, derradeiro. Minha alergia aos seus muitos pêlos foi contornada pelo seu ronrom suave — não me pergunte como. Dono de vários lares, Você era nômade corporal, mas um exímio sedentário cardíaco. Você tinha tudo para ser apenas mais um gato, entretanto, com Você era tudo incrivelmente diferente. Era... Pobre Você! Caiu do sétimo andar. Pensei que ele também soubesse voar. Você não teve culpa, muito menos eu! A culpa é dos engenheiros, dos pais de Você, do vizinho ou de todos. O que Você diria? Acho que ele sabia o que fazia... Balela! Mania fei

Silencia-dor.

Quanto mais o relógio tiquetaqueava, mais a anestésica ideia de tempo perdido o consumia. Era como se uma âncora, chamada passado, desconstruísse e afundasse aquele que outrora desbravava a nado os sete mares dos pecados. Mas, apesar disso, seus pulmões, desumanamente resistentes, de nada se queixavam, visto que a apneia o aproximava da paz suprema que a morte trazia: o silêncio. O silêncio é o som universal dos humanos. Apesar de muitos falarem, apenas a mudez é unânime. Porque gostamos do meio-termo, da sua dúvida, da nossa imaginação. No íntimo, estamos sós, calados com nós mesmos, resignados ao estrondoso eco da alma. Pois as perguntas imperecíveis, as verdades dubitáveis, a concreta e insuportável peremptoriedade das opiniões flácidas: tudo converge às indigestas palavras. A escrita é a arte triste. Há milhares de anos o homem tenta transcorrer pelo papel sua humanidade, contudo se choca graças, justamente, a sua defectiva e incompreensiva humanidade. Daí a amargura dos romancis

Não leve a mal.

Eu tenho que evoluir? Quem disse que eu tenho? Quem disse que eu quero? Por que devo ir em busca desse disfarce tolo do superei — ou como os mais hipócritas gostam de dizer —, do te arquivei num lugar bom? Não! Eu não quero. Simplesmente me recuso a esse recalque travestido, fingido, forçado, social. Prefiro o meu velho, bom e francês recalque. Aqueles das dores infinitas, dos pra-sempres revividos, do diariamente triste. É certo que minha vida é curta demais para ter só tristeza, mas também é efêmera para essas alegrias demagógicas. Deixe-me assim, com meu desamor sincero. Já sei do que vou me lembrar no futuro e agradeço sua boa intenção.