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Paixões.

Primeiras paixões. Ah, as primeiras paixões! Tudo se torna tão belo! Os dias são eficazmente mais brilhantes. Aquela prova de química? Foi 3, mas valeu como um 10! Nas primeiras paixões tudo é assim: mais bonito. Inédito, pra dizer a verdade. Inédito porque é algo completamente novo contemplar a beleza da vida comum por esses olhos ardentes. Ah, as primeiras paixões! É também nas primeiras paixões que queremos compartilhar as primaveras. “Mandar flores ao delegado, bater na porta do vizinho e desejar bom dia, beijar o português da padaria” e tudo o mais pra que todos reflitam do mesmo modo os fótons amorosos do nosso farol ocular. Queremos tanto esse mundo perfeito que até nos iludimos pensando que nos subjugaríamos para que o mundo fosse cada vez mais cintilante quanto nossos olhares. É a tentativa de perdurar o gozo infinitamente efêmero dos suspiros do ‘eu te amo’. É lindo!
Não disserto para não-apaixonados, porque se já é difícil expor uma ideia, imagina transpassa-lá para pessoas que nem sabem o que ou como ela é. Portanto esse texto é para os apaixonados! Para os perdidamente apaixonados! Para aqueles que dariam tudo para ver seu amor mais feliz.
Quando estamos nas primeiras paixões, desejamos consertar o mundo e concertá-lo também. O mundo? Quis dizer nosso amor. É incontrolável o desejo de acompanhar, ajeitar, guiar e auxiliar o bem amado. Tão insuportável que de tanto nos apertar o coração, só nos resta explodir. Estourar de paixão: mostrar quão belo e quão fascinante é o ato de amar. Só esquecemos de uma coisa: não dá para ensinar um ser humano. Não dá para moldá-lo. Ser humano é bicho ruim de se mexer! Que triste, né? Mas estamos apaixonados: dá pra relevar e continuar amando, porque só o amor importa.
Olá, apaixonado! Que dia intragável bom, não é? Será que vai ser assim amanhã também? Para os apaixonados a vida está sempre boa. É uma droga intermitente. E aí chega uma parte chata: é mentira. Essa vibe tem um fim. E, como toda droga forte, a ressaca é tenebrosa, porque talvez dure mais que o próprio efeito psicoativo. Os mais comuns efeitos colaterais são o rancor, o medo, a não permissividade de amar novamente. Amar? Ou seria apaixonar? Talvez você me entendta, talvez não: mas amar é mutual, apaixonar é geralmente unilateral. Quando nos apaixonamos reciprocamente, aí sim, tudo tende ao amor. Cuidado: se há reveses, provavelmente não tem como encontrar amor aí. Não o amor que os calouros apaixonados procuram. Pode ser até outro amor. E a boa nova é: pode ser até outra paixão.
Apaixonar-se é uma dádiva hormonal: lembre-se disso! É seu corpo presenteando prazer a si mesmo. E esse prazer vem em dar prazer ao próximo. Em aproveitar as coisas boas e não saber das ruins. Ou sabê-las, mas não enfatizá-las. Ou enfatizá-las, mas só sob o expresso e específico documento de urgência de ajuda. Para descobrir isso? Acho que só com uma nova paixão: as segundas paixões! Ah, as segundas paixões...

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