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Umas meias verdades.

Sinto informar, porém é verdade: no final o que você menos queria transparecer, se apresenta como uma lei que lhe obriga a ser quem você mais odeia, o outro. Pior! Se você parar pra pensar, percebe que isso tudo é estratégia do seu próprio ego. A egolatria é tão intrínseca a você que ela sabe que é melhor ser vista como má e inaceitável. Ora, egos não querem concorrentes!

Contudo, não esqueça: o ego se esquiva! Ele se aproveita da confusão que o melindre causa com aquela cara antagônica do ‘não fui eu’. E é aí que ele peca. Não pela contradição de agir de uma forma e ser de outra, mas porque o ego não agüenta tanto culto a si. O ego tem essa mania feia de ser complementado! Digo, visto que chega uma hora que você percebe que cansa ser só. É inevitável.

O ego não se contenta com o flagelo a si e se alimenta da submissão do próximo, parasitando no ser-ou-não-ser, no estar-ou-não-estar. Por isso, cogito, agora, retirá-lo de mim. Dar adeus aos caprichos e opróbrios da alma! Adeus, contradições! Nunca mais volte, veneno da existência!..

Então reflito: pros diabos meu amor-próprio!? Quem há de me amar eternamente senão eu mesmo!? Danem-se os meus méritos, as minhas singularidades!? E constato que o ego ironicamente também me move, me sustenta, me mantém vivo. O ego também ama.

Logo, por fim, a única coisa que descubro é que entre o útil e o inútil dessas dúvidas emergidas sobre quem eu sou, nada posso afirmar sobre as razões do ego, afinal, o ego é um cego que quer ver e ser visto.

Comentários

  1. muito bom! realmente estamos ligados por pensamentos similares... o meu talvez bem mais pessimista que o seu

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