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Imagine a pergunta.

− Não. Não sei como lhe explicar isso. É como se eu entrasse em colapso com um simples fato de um cisco ter caído no seu olho e, outrora, ignorasse a bomba nuclear que estoura a dois quarteirões. É como se você fosse a lógica disso tudo, que foge, se esguia como serpente em solo pantanoso e nunca dá as caras; só envenena. É como essa perda de razão, de coerência, de sentido, entende? Lógico que não. Nem eu entendo! Mas nem por isso pense que lhe redimo a culpa! Falo da culpa que sinto, da culpa de que sempre fui assim, não mudei, não virei a página. E a mais pungente de todas elas: a culpa de lhe culpar pelo que sou. Eu não sei mais se é tão legal assim não ser normal. Eu queria poder ser normal, iguais a esses que me lêem agora, que sempre pensam. (lembre-se: sempre pensam é sinônimo de nunca param de pensar!) Eles, os normais, conseguem agir, dominar a situação na cuca, rebater, defender, redargüir... enquanto nós, os leitores do lado de cá, só existíssemos para sentir. É como se a Ordem fosse que caiássemos tudo que sentimos e tingíssemos, em lugar disso, o vazio. Incoerente, eu sei. Mas a Ordem é incoerente e conviver com ela está mostrando que não é, como eu disse, tão legal assim. Aliás, é difícil. E, como o leitor bem sabe, dá para se adaptar a tudo... nalgum momento, mas dá! Estou certo? Errado. Não há o certo ou o errado. Talvez por essa analogia fique mais fácil de entender (ou seria desentender?) o real e o fantasioso. Ora, se é tudo real! Ora, se é tudo fantasioso! O amor: real e fantasia. A dor: real e fantasia. A felicidade: real e fantasia. Os dois leitores: real ou fantasia? Os dois vocês: real ou fantasia. Arre! Não dá para fugir dos clichês da alma. Não da alma pura, honesta, inata. Quando sinto, sou flagelo do sentimento, não tenho personalidade. Quer dizer, tenho: eu sou o que sinto. Sinto muito.

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