Pular para o conteúdo principal

Recriativo.

Hoje eu acordei. Não que eu estivesse em coma e acordar fosse um evento extraordinário. Hoje eu apenas acordei. Simples assim. Em outras palavras, eu deixei de dormir. E não me venham adivinhar um significado simbólico — ou profundo, ou subjetivo, ou o que queira — para três palavras tão corriqueiras: hoje eu acordei; como ontem e provavelmente como amanhã acordarei. Abri os olhos, saí do sonho, tirei a remela, me espreguicei e praguejei o motivo que me despertara.

Escovei os dentes e me banhei depois de tomar café. Minha empregada sempre me repreende por logo após o café eu ir à ducha. “Vai tomar banho depois desse café quente!?” me fala com toda aquela convicção de que depois do terceiro cantar do galo, toda careta torna-se permanente.

Após ter morrido e ressuscitado naquele banheiro, relatei-lhe o ocorrido e, milagrosamente, ela não acreditou.

Sou contra a máxima que tanto se apregoa do só acredito vendo. Porque até vendo, se quiser, não dou fé. Crer é questão de opinião e apenas isso. Digo isso para me autoafirmar — e que palavras não têm esse intento? Mas, voltando ao impasse, hoje acordei e mais tarde vou dormir. Quem sabe mais poética esse sono traga.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Liquidifica dor

Misturo tudo dentro. Ponho coisas doces, amargas e o saudoso sal. Todas as cores lindas do arco-íris. Às vezes queria ter um liquidificador na minha casa nova, mas me contentaria com uma luz difusa – por enquanto. Em quanto tempo tudo se decanta? Ou tanto faz já que tudo encanta? Finjo não importar. Ajusto a velocidade e me assusto com ela. Tudo vibra. Ponho meu bloco de manteiga na rua e bato mais um pouco essa história louca. Infelizmente o medo aparece. Medo de tudo. De tudo! E ele, o medo, desonera minha arte.  Aparta-me do nexo, apela-me ao sexo, aperta-me o plexo! É tanto tempo, é tanta coisa, é tanto tudo que me afugenta o nada. Um zunido me azucrina. Mas o nada é preciso! É precioso! Paro e reparo os líquidos ao redor do olho do corpo do oceano. Prefiro a calmaria do fundo. Quase me afogo no mundo. Lembro-me de que nada disso é real. Tudo não passa de um pesadelo. Pesares... e deleites fazem parte da receita. A pergunta que fica, na verdade, é se só nos resta aceitar que é mel

Visita surpresa

Eu não sabia aonde você tinha ido parar. Fazia tanto tempo que você não aparecia! Por um instante eu nem acreditei que fosse possível: você aqui de novo!? Eu não sabia se você estava morando no Ceará ou somente nas minhas expectativas.  Está chovendo. Você chega sem bater na porta, traz as roupas do varal e atravessa meu corredor. Invade todos os cômodos como inundação. Coloca uma música, equaliza o som e me faz dançar! Só sei dançar com você também. Pude sentir o seu perfume pela sala. Em meia-hora você mudou minha vida. Você acredita que vivo até hoje com a sua herança? Fiz seu café. Tapioca com leite de coco, se me lembro bem. Olhei seus olhos e eles revelavam uma tranquilidade cândida. Era como aquelas aparições angelicais que o povo de antigamente dizia ter. Suas feições eram serenas, um quase sorriso meio safado, meio transigente. Era lindo esse sorriso. Você já vai? Tudo bem. Obrigado pela visita. Eu estava mesmo morrendo de saudade! Volte sempre! Volte mais! Apareça, amor-própr

Modelo

Pessoas procuram modelos para se apegar. Não há nenhuma novidade nisso. Seguiria eu também o meu próprio modelo? Certa vez ouvi um sábio dizer que os loucos abrem caminhos que mais tarde serão percorridos pelos sábios. Mal sabia ele que mesmo se achando louco, ele, na verdade, já era um sábio por percorrer caminhos já previamente sabidos, trilhados. Seguiria ele também seu próprio modelo? Até onde é a autonomia daquele que diz que não segue modelos? Seria possível ainda haver novos caminhos a se descobrir? É por esquecer do óbvio que o trágico acontece. É por errar o caminho que uma estrada se tece. Talvez seja ímpar viver em par. Talvez casar não seja o caso. Talvez transar não seja um caso. Talvez uma carreira de sucesso não faça sentido nas ruas de Olinda. Talvez em São Paulo, faça. Talvez uma viagem pra Índia is not your thing . Talvez o anonimato lhe seja abominável. Morar no mato, ou na cidade, ou embaixo da ponte,  ou embaixo d'água, ou em outro planeta ou em outros... model