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Recriativo.

Hoje eu acordei. Não que eu estivesse em coma e acordar fosse um evento extraordinário. Hoje eu apenas acordei. Simples assim. Em outras palavras, eu deixei de dormir. E não me venham adivinhar um significado simbólico — ou profundo, ou subjetivo, ou o que queira — para três palavras tão corriqueiras: hoje eu acordei; como ontem e provavelmente como amanhã acordarei. Abri os olhos, saí do sonho, tirei a remela, me espreguicei e praguejei o motivo que me despertara.

Escovei os dentes e me banhei depois de tomar café. Minha empregada sempre me repreende por logo após o café eu ir à ducha. “Vai tomar banho depois desse café quente!?” me fala com toda aquela convicção de que depois do terceiro cantar do galo, toda careta torna-se permanente.

Após ter morrido e ressuscitado naquele banheiro, relatei-lhe o ocorrido e, milagrosamente, ela não acreditou.

Sou contra a máxima que tanto se apregoa do só acredito vendo. Porque até vendo, se quiser, não dou fé. Crer é questão de opinião e apenas isso. Digo isso para me autoafirmar — e que palavras não têm esse intento? Mas, voltando ao impasse, hoje acordei e mais tarde vou dormir. Quem sabe mais poética esse sono traga.

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