O Coringa é a personificação de uma tara que a sociedade tem. Eles fizeram da vida do personagem um eterno sofrer. O Coringa era a vítima de todos ao redor, que riam da condição dele – e não das palhaçadas que ele fazia. Ele era feio, pobre e tinha um distúrbio mental que o fazia rir sem controle – especialmente quando ele se via injustiçado.
O Coringa só queria fazer o bem sua vida toda. Não fazia mal a uma formiga sequer. Ele, como bom palhaço que era, só queria fazer as pessoas felizes e, de quebra, ser alguém digno de felicidade. Mas o que os outros ofereceram? Cobranças. Cobrança inclusive de que ele aceitasse uma condição na qual ele era apenas um saco de pancada.
O movimento que ele "começou" não teve nele a sua inspiração. As pessoas que se viram na mesma condição dele, apenas liberaram essa insatisfação. O Coringa foi, no máximo, um lembrete para que as pessoas fizessem algo além do "acorda, defeca e amém".
E é aí que o grande espetáculo se deslinda: a sociedade não quer se assumir falida de propósitos e valores. A sociedade quer, na verdade, é ter alguém para sempre culpar pelas suas falhas. E, sem nenhuma surpresa, culpa de novo o já culpado Coringa. Ora, que novidade!
O Coringa é apenas um reflexo, uma doença criada para vender remédio moral nessa eterna, batida e previsível estratégia de arranjar motivos para socar os mais vulneráveis. Culpam o sujeito e não as condições em que ele está inserido. Culpam o sujeito e a sua vulnerabilidade imposta por eles mesmos. Personificam o erro nos outros para esquecerem que os outros são os que me leem também.
Bang!
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