
Quanto mais o relógio tiquetaqueava, mais a anestésica ideia de tempo perdido o consumia. Era como se uma âncora, chamada passado, desconstruísse e afundasse aquele que outrora desbravava a nado os sete mares dos pecados. Mas, apesar disso, seus pulmões, desumanamente resistentes, de nada se queixavam, visto que a apneia o aproximava da paz suprema que a morte trazia: o silêncio.
O silêncio é o som universal dos humanos. Apesar de muitos falarem, apenas a mudez é unânime. Porque gostamos do meio-termo, da sua dúvida, da nossa imaginação. No íntimo, estamos sós, calados com nós mesmos, resignados ao estrondoso eco da alma. Pois as perguntas imperecíveis, as verdades dubitáveis, a concreta e insuportável peremptoriedade das opiniões flácidas: tudo converge às indigestas palavras. A escrita é a arte triste. Há milhares de anos o homem tenta transcorrer pelo papel sua humanidade, contudo se choca graças, justamente, a sua defectiva e incompreensiva humanidade. Daí a amargura dos romancistas, filósofos, poetas...
Terminamos, portanto, por nos conformarmos com a tristeza prazerosa, que nos atrai e rechaça dos nossos dizeres inescapáveis. Num combate conciliador entre o incoerente e o fantasioso, onde nossa luta só serve para nos mostrar que na vida real o mocinho se afoga e não dá sequer um gemido de dor, por saber que falar é inútil e o calar, apaziguador.
"No íntimo, estamos sós, calados com nós mesmos, resignados ao estrondoso eco da alma." lindo!
ResponderExcluirperfeito este ensaio filosófico
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