Dia desses travei uma luta
feroz com uma amiga de longa data, a senhorita Consciência. Como em toda boa
briga, não só apanhei, é claro. Bati muito também! Soquei-lhe nas suas maiores
controvérsias, chutei-lhe bem em cima de suas falhas, acertei-lhe em cheio os
seus arredios desacertos! Contudo, como bem já adiantei, perdi. Ora! Ela é uma
monstra! E dos piores tipos! Que lhe esmaga a cada investida bem-sucedida. Sei
que saí dorido, arrasado, cadente, porém, tenho certeza que ela também. Nas palavras
que se seguem tentei transcrever minha cansativa desventura. E ela começava com
um questionamento absorto vindo de não sei de onde, não sei que horas que dizia...
– Você já se perguntou do porquê de quando você é mais
novo, facilmente fala ‘eu te amo’ e agora, enquanto ‘adulto’ dificilmente o
diz? Pensando sobre isso, foi que atinei sobre essa autoanálise tantas vezes
negligenciada por você.
Pausa: o leitor pode até
achar disso tudo um esboço bobo (para não chamar ingênuo) de querer falar sobre
o que todo mundo já tem conhecimento, ou seja, de que muitas pessoas
simplesmente sabem que com o tempo as relações para se tornarem firmes precisam
obter credibilidade e confiança e é por isso...
– Graças ao critério “confiança+credibilidade” que
acabamos por privar... quer dizer, privilegiar o amor a um grupo de pessoas que
preencham corretamente as lacunas abertas nesse questionário pré-amor. Procuramos
sempre defender os nossos critérios, sem dar ouvido a outras propostas de
outras pessoas de ‘como amar’, simplesmente porque o fato de amar é algo
pessoal, isto é, ninguém, além de mim mesmo tem o direito de ‘julgar o que eu
devo ou não amar’.
Concordo. Eu,
particularmente, me armo com milhões de pedras na mão contra quem quer que seja
que venha sequer cogitar a hipótese de que eu, em muitos rodeios ou poucas
palavras, devesse mudar a maneira dos meus sentimentos, com o discurso de que
eu devesse dar realmente ouvidos a outras experiências, mesmo que à primeira
vista não me pareçam tão absurdas assim etc, etc, etc.
Entretanto, feita essa
argüição toda, me deparo frente a frente com a ressalva desse diálogo
autoanalítico, quando atirei-lhe “(...)privar...
quer dizer, privilegiar(...)”. E insto à minha Consciência amiga:
– Por que “quer dizer”? Para quem foi intencionado
esse “quer dizer”? Para o leitor, a fim de que assim acompanhe a linha do meu
raciocínio? Ou para o eu-lírico, que precisa seguir minha linha de raciocínio?
Para o leitor, com o intuito de situá-lo no conflito iminente? Ou para meu
eu-lírico, para admitir a mim mesmo que é necessário parar e corrigir meus
pensamentos?
Foi então que caiu como um
punhal a ficha no meu peito. A ficha atravessou todos os meus raciocínios
(desde o mais profundo e complexo ao mais raso e trivial) e ela dizia:
– Para tudo! Esquece do que você acabou de pensar e me
responde: faz quanto tempo que você não diz ‘eu me amo’? Há quanto tempo você
não pára pra você? Há quanto tempo que você não decide interromper todos os
vínculos com as suas responsabilidades racionais e se apega às suas
necessidades emocionais? Você acha realmente que a vida é só para achar razões
a tudo? A pergunta que move o mundo é o “por quê?”, concordo, mas está na hora
de admitir que às vezes o seu bonde só pode correr enquanto tiver condições de
correr. Para isso não precisa de explicação, motivo ou razão aparente:
simplesmente eu paro, vejo o bonde andar, recupero o fôlego e sigo o rumo que
eu bem desejar. Como toda máquina sobrecarregada, um dia ela pifa. Isto é, entendo
que o mundo não para, mas o seu cessou e não deve explicações.
Não deve?
– Devo sim!
E é aí que mora o míster dessa
auto-reflexão: existe felicidade sem ser compartilhada? Eu sou o responsável
por aquilo que cativo?
– Por que amar virou tão racional!? O que há de
errado? Quanta responsabilidade é viver! Tilt, tilt!
Parou!
– Parou nada!
Forçar a barra contra um inimigo
palpável (como um deus, ou seu vizinho) a quem se possa direcionar a culpa é
mais fácil, mas e quando o inimigo é você mesmo, a quem você vai ter moral de direcionar a culpa? Nossos monstros são aquilo que
nós criamos na nossa mente, logo o combate tem que ser lá dentro da mente
também, confere? Pééén! Você não sabe! Você não sabe como combater um inimigo
quando você é ele mesmo. Você precisa necessariamente de ajuda. Ou então, faça
como um eremita e descubra que é sozinho que você se cura, mas também é sozinho
que se envenena.
– Deus somos nós, são nossas atitudes, é o nosso
caráter. Deus acertou quando fez muita coisa, mas Deus para poder ter criado o
acerto, havia de ter criado o erro, logo, Deus também erra. Perceber que todas
as nossas convicções podem ser mudadas em virtude das circunstâncias vigentes é
lacerante, mas é algo que tem que ser aceitado. Por exemplo, um dia alguém que
você ama vai morrer e você vai ver que sua convicção do eternamente amar e ser
amado terá de ser rompida sem que você não pudesse fazer nada a respeito. Logo
a você!!! A você que tanto se empenha para que tudo ocorra tão “perfeitamente”!

Nessa autoanálise busquei
pelo todo, sem me dar conta que meus braços não são do tamanho do planeta, me
sobrecarreguei e acabei não conseguindo construir a minha resposta. Ficando
apenas os porquês da cinemática: por que tanto eu? por que tão pouco eu?
Caraca isto é um verdadeiro tratado sobre emoções ... fantástico ... Eu, por ser um cara ultra emocional tive q criar um escudo de defesa por volta dos meus 30 anos de idade. Não me arrependi ... Desde então, sou um cara passional totalmente controlado pela razão ... não me privo das emoções mas as mantenho sob o rígido controle do racional ... vão dizer: Vc é um cara q não sabe viver pois não vive em plenitude ... eu respondo: verdade, mas tb não sofro mais como eu sofria ... nunca tive vocação para masoquista ...
ResponderExcluirbjão
putz.. belo texto.. adorei...
ResponderExcluircomo sempre, textos incriveis.
ResponderExcluirsaudade de vc.