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Firework.

— Oh, Senhor, por que queres que eu faça isso?

— Não adianta me questionar. Dos meus desígnios sei eu!

— Matar o próprio filho? Por que não mata O Senhor, já que faz parte dos seus desígnios!?

— Eu não posso. E é aí que você entra.

— Não te compreendo. Tu, Senhor, és onipotente. Por que não matas O Senhor mesmo teu filho, meu irmão?

— Há coisas, meu filho, que não é próprio a tua natureza entender. Portanto, quero te propor um trato. Quero que te juntes a mim para abrirmos outro compartimento no inferno. Trata-se de um pedaço que alugo a Lúcifer. Como não há nada além da minha propriedade, ele tem uma dívida eterna comigo. E é isso que quero te propor se me ajudares no meu propósito.

— Que é matar teu próprio filho, meu irmão!

— Ninguém jamais saberá que és irmão dEle, eu não permitirei.

— ...

— E então o que me dizes? Estou sendo camarada contigo: dando-te a chance de também ser conhecido, lembrado, enfim.

— Não vejo bem assim, Senhor! Na verdade me sinto injustiçado: ou serei eternamente conhecido como traidor ou então serei ninguém.

— A ti te concedo a eternidade. Eu te perdoarei, será esse nosso segredo.

— Honestamente ao que parece queres menosprezar-me, meu Deus! Queres encurralar-me! Que escolha tenho se me impingiste também de ego? Nenhuma! Nenhuma!

— Ainda bem que acataste meu pedido.

— Deus, sinto agora uma coisa muito ruim por ti.

— A isso chamo cólera, ira, raiva. Quando te suicidares, pergunte ao diabo o que é. Ele está mais apto a falar do que eu sobre esse assunto.

— A propósito, por que devo matar meu irmão?

— Preciso testar um jogo de luz novo.

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