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Tá.

Seu corpo tem a chave dos meus desejos. Seu beijo: língua na minha libido. Peito cheio de aspirações: que também me pira e inspira. Seu jeito, sua voz, seus segredos, seus sussurros, suas taras: tudo. Sem medos ou grilos de mim. Silêncio corrompido pelo seu gemido. Tudo agora tem sentidos: vai e vem. Sua carne boa, sem nervos, no ponto, suculenta. Obrigado, mas sem brigar comigo. Leve levo a sua cintura – que me aprisiona como um bambolê. Seu ciúme: minha alforria. Você talvez não saiba, mas eu sei onde você sente. Afinal, como você vai embora, algo fica pra sempre pra trás. Aliás, você não vai mais embora. Você virou minha pintura, quadro vivo na minha memória. Queria saber desenhar... mas pra quê? Se eu posso escrever sem pontuações as mais diversas versões de como você tá suas FR /sɥa/ verb second-person singular past historic of suer suer -uːə(ɹ) UK US noun Someone who sues; a suitor. suer FR /sɥe/ verb to sweat
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Caminhos

Ainda me pergunto onde é a fronteira entre raiva e tristeza. Heranças da relação, promessas inescapavelmente fugitivas, mais um crime sem solução… Vários são os caminhos dessa longa estrada. Como as visões distorcidas da vida após a morte. Afinal, zumbis só se alimentam no imaginário. Mas o que é viver senão um passeio no mundo dos pensamentos? Viajo por entre memórias e projeções. Percebo o óbvio: só tenho esse presente. Uma bússola estática me navega desde o Norte até este Janeiro. Ela me aponta raivas e tristezas. Não somente as que vivi, mas sobretudo as que com prazer compartilhei. Eu me esforço muito para discernir quais sentidos — raiva ou tristeza — eu devo ou posso seguir. Entro na contramão de vez em quando. Atalhos da vida linear. Mudo de marcha e meu câmbio sempre me impulsiona ao exterior. Belos horizontes despontam novas experiências. Não só excrucia ou extermina o melhor de mim, mas também excita e exercita. Percebo o que a estrada sempre quis mostrar: o caminho a frente

Meu Herói,

Se afastei você de mim, não foi por maldade. Quis te proteger de me proteger. Os segredos, os medos e os desejos imprecisos. As saudades, as verdades e os sentimentos encobertos. Clássicos elementos de um drama perverso. E você não é isso. Pelo contrário, você é muito mais que isso! Seu gênero é aventura, é descoberta! Mais um herói se salva da minha teia. Torço por você enquanto você se contorce por mim. Mais uma vez aquela música. Procuro na rua o cheiro da minha danação. Fragrâncias similares me apontam a direção da culpa. E aquela dor que gosto de sentir, feliz e infelizmente, já não vai fazendo tanto sentido. Certamente meu herói me salvou do meu maior vilão, meu eu-zumbi. Hoje percebo com cada vez mais clareza a inútil diferença entre raiva e tristeza. Aprendo diariamente sobre os meus sentimentos, à medida que me afasto de mim. Eu me exploro. Descubro-me através dos ares, lares e pesares. E foi aí, inclusive, que encontrei você, meu herói. Entre as nuvens – do cabelo aos pés. En

Na cigarreira.

O vício sempre parece uma boa opção em algum momento. A gente nunca consegue ser invicto contra ele. Parece que ele, o vício, é a única solução que nos aceita e nos é impossível renegá-lo para sempre. A vontade contumaz fica lá, urdindo pela sua recaída, até que ela vence dessa vez (mais uma vez). Resiliência silenciada na calada da noite das respostas que tive que inventar. Aquele silêncio do estalar da pólvora pra retomar o fôlego. Sempre recaímos. Em uma hora ou outra inevitavelmente tropeçamos. É ilógico pensar que não recairíamos. Não é um Lucky Strike (golpe de sorte), sabemos disso. Mas continuamos jogando, afinal um gol contra os sete que já marcamos não nos fará perder a partida. Dois cigarros: um pra mim, um pra meu amor-próprio. Eu e ele tragamos, transamos e trazemos novos paradoxos pro velho cinzeiro. As cinzas dos pensamentos renascendo como fênix e morrendo – como fênix. Dois cigarros: um pra morte e outro pra vida. Medo e desejo brincando na corda bamba da distância. U

Luto

Luto pra não me entregar. Luto por não haver mais nada. Luto pra esquecer. Luto por lembrar. Luto por ter me perdido. Luto pra me reencontrar. Luto cansado, desgastado, repetidamente em frangalhos. Luto por palavras doces dissolutas. Luto por dores amargas e resolutas. Luto pela batalha perdida. Luto pelo sal na ferida. E ainda assim, luto. Luto para me apegar às coisas ruins – mas é pelas boas que o luto se justifica. Luto pra achar uma ilha onde eu já vivi. Luto contra a correnteza, contra a gravidade sufocante e convidativa do fundo. Luto para segurar o leme, para manter o rumo e aprumar as velas. Luto pra não acender uma vela. Luto por conter a chama. E, sobretudo, luto para manter o verbo e afogar o substantivo.

Rio pra não chorar.

 O Cristo me rendeu. Quedei-me ajoelhado diante do seu esplendor. Nessa cidade, me mudei. A necessidade me mudou. O coração tenta se desligar e ligar em cada batida. A rua pulsa, vibra e pisca. Nada é tão fácil. Nada é tão difícil. Nadar é que é necessário. Contra correntes ou a favor delas. Estou achado de amor! Voltei pra mim. Saudade grande. Aposto na Sena que ninguém me entende cristalinamente. Aceno. Dei vinho ao meu desejo e ele não me deu ressaca. Acho que sei beber. Um mar de ressaca invadiu a praia. Loucura normal. O medo... Ah, o medo! Seria um bicho? Seria um monstro? Sujeitos ocultos cada vez menos ocultos: eu, ele, você. Nós rezamos a mesma oração. As verdades, as mentiras. As cores e as trapaças: as flores e a desgraça. Só as rosas são sinceras.

Typo assim

Eu me afoguei em lágrimas que nunca chorei. E bebi da água que sempre evitei. Um Rio inunda minha cabeça. Mil igarapés me aconselham: vozes difusas me apontam decisões difíceis. Um jogo, uma competição, tudo se diz puta! Só eu e meus escritos me dão prazer. Um reencontro talvez me afague – e eu não me afogue na banalidade do ser. Eu tenho medo de não dar conta. Eu tenho medo da minha conta. Eu tenho medo de ser refém da minha conta. O medo me dá muitos presentes, mas está na hora de eu os negar! Tudo agora é uma obrigação: falsa liberdade. Você é obrigado a tudo: do respiro ao suspiro, de manter a paz, de evitar os Guerras. Os Dias não têm culpa de nada. Eles sim são presentes. Procuro dois pra lá e dois pra cá. Modelos, hoje, me nauseiam. Tenho medo de baleias, mas amaria sê-las – te entendo, Letícia. E admiro muito o seu trabalho. Toc, toc... Quem é? Sou eu. Vim aqui para lembrar você daquela sensação. Do toque suave do sol na pele nua. A entrega nunca antes vista na rua. A falta de