O vício sempre parece uma boa opção em algum momento. A gente nunca consegue ser invicto contra ele. Parece que ele, o vício, é a única solução que nos aceita e nos é impossível renegá-lo para sempre. A vontade contumaz fica lá, urdindo pela sua recaída, até que ela vence dessa vez (mais uma vez). Resiliência silenciada na calada da noite das respostas que tive que inventar. Aquele silêncio do estalar da pólvora pra retomar o fôlego. Sempre recaímos. Em uma hora ou outra inevitavelmente tropeçamos. É ilógico pensar que não recairíamos. Não é um Lucky Strike (golpe de sorte), sabemos disso. Mas continuamos jogando, afinal um gol contra os sete que já marcamos não nos fará perder a partida.
Dois cigarros: um pra mim, um pra meu amor-próprio. Eu e ele tragamos, transamos e trazemos novos paradoxos pro velho cinzeiro. As cinzas dos pensamentos renascendo como fênix e morrendo – como fênix. Dois cigarros: um pra morte e outro pra vida. Medo e desejo brincando na corda bamba da distância. Uma hora ou outra iriam cair inexoravelmente. A esperança equilibrista também caiu. Foi triste. Foi muito triste esse espetáculo. Aplaudi de pé. As lágrimas vieram com gritos de socorro e esplendor. Aquela dor é uma obra prima.
Eu sinto muito. Sim: muitas coisas eu sinto. Sinto a poesia desperdiçada entre os dedos, sinto o calor no peito, sinto o incômodo na alma, sinto o prazer no corpo. Sinto um peso se libertar, enquanto outro o substitui. Faz parte. Sinto tudo isso e muito mais. Sinto falta. Muita. Sim, é isso que eu quero: dois cigarros, por favor, moço! No crédito.
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