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Mostrando postagens de outubro, 2010

Oun.

— Alô, amor? — Oi. — Tá fazendo o quê? — Estudando. — Tá chatinha, heim? — ... — ... — Ei, a gente está namorando? — Por que a pergunta? — Porque eu não me vejo namorando ninguém. Porque eu sinto que você me usa como um analgésico, que só quando a dor da solidão bate, você me procura. — Hã!? Por que isso de novo agora? — Agora? É bom enquanto é cedo! Não sei se quero isso, sabe? Está uma inconstância que só tende a piorar. Você não me dá a mínima e estou sofrendo com isso. Se lhe alimenta o ego: estou sofrendo por você! E acho que namorar não é sofrimento. Não passa nem perto disso. — Não entendo o porquê disso. Eu não estou fazendo nada! — Exatamente, Júnior: você não faz nada! — Mas o que eu estou fazendo agora? Eu te ligo, não ligo? — ... — ... — Tem uns fantasmas seus que me azucrinam, sabe? — Tipo o quê? — Sua ex, seus segredinhos com seus amiguinhos, sua falta de tempo. Tem muitas coisas que não eram pra ser assim. Porra, eu gosto muito de vo

Mosca

Faço e desfaço fácil. Minto e me meto muito. Leio e leciono louco. Peço e pareço porco.

Dá um tempo! (parte 6)

Parte 5 | Parte 4 | Parte 3 | Parte 2 | Parte 1 — Moça, o cardápio, por favor. José e Marcelo entraram em acordo que — agora milionários — só iriam usufruir do bom e do melhor, tanto que dessa vez chegaram até a pedir o menu . Inicialmente, eles pensavam em absinto, contudo, como no PUB a que eles foram não servia ao tom dos seus requintes, resolveram experimentar uísque. O critério de escolha etílica se baseava no preço e assim pediram doses (sem gelo) de um uísque cujo nome e cifra eram os mais destoantes do lugar. Seus olhos arderam, tais quais suas bocas e esôfagos. Eles não sabiam sequer que uísques não eram adocicados, mas, mesmo assim, sorveram aquele volumoso gole hídrico de quem acordou após uma noite inteira de uísque à bebericadas. Sob aquela cara de semi-cãibra acompanhado de um sussurro diabólico como voz, Marcelo comentou com o outro: — Uma delícia! — É. Uma delícia... — Mas? — Estive pensando: há um dia atrás não teríamos modos de pagar a conta. — Sem

Dá um tempo! (parte 5)

Parte 4 | Parte 3 | Parte 2 | Parte 1 Um castelo em Miami? Uma viagem pelo mundo? Um Dodge? Investir na bolsa? Calvin Klein? Ou Dolce Gabbana? Sempre se passa pela cabeça comprarmos coisas se, de uma hora para outra, ficássemos milionários. Nas espaçosas mentes de José e Marcelo também ecoavam esses pensamentos. O que talvez não passe na mente de muita gente é o que fazer no exato momento em que sua conta sai do cheque especial e ultrapassa em 30.000.000 % o valor que você ganha por mês. Os nossos sortudos protagonistas já ciscaram, cacarejaram e até puseram ovos ao telefone, mas e agora? O que fazer? Às 21h16 as lotéricas não lhes avultariam os bolsos. Contudo era preciso comemorar! Trancafiar com cofres de diamantes o tremendo fardo que suas vidas pobres eram. Seu time ganhou? Acabou o namoro? Ou está desejando aquela deusa? Raiva ou desespero? Não importam os motivos da guerra, beber ainda é mais importante, dizia um velho e embriagado cabeludo. Para aquela dupla, no entant

Dá um tempo! (parte 4)

Parte 3 | Parte 2 | Parte 1 Como um ioiô, seu desânimo se projetou nesse instante nas mansões e alegrias que aquele gelado pedaço de papel lhe proporcionaria. José contou para a mãe de Marcelo ao telefone que havia encontrado o agora então bendito bilhete da mega-sena. Magicamente tudo tomara novos ares: José, extasiado; Marcelo — que até o momento só repetia xingamentos — entorpecido; e sua família reacendera o frustrado pavio dos foguetões. Só havia, entretanto, uma pessoa que permanecia inabalável com os possíveis zeros somados aos três da sua caderneta de poupanças. Alto lá, você que pensou que fosse aquele tio canastrão e aproveitador que logo logo levaria um pé na bunda! A pessoa era a mãe de Marcelo que, ao ver aquele velório metamorfosear-se em epifania, não ligou se um talibã morrera e disparou: — Vocês já conferiram os números? Outra vez o cenário mudava. A casa de Marcelo parecia o Globo Repórter em dia de retrospectiva. Não só pela miscelânea de notícias marcantes